Todos os dias vamos morrendo um
pouco. Por vias mais ou menos tortas vamo-nos aproximando do momento da
partida. Mas nada sabemos do cais que nos está reservado. Nem temos consciência
da viagem que fazemos: temos a ilusão que é a paisagem que se move e que nós estamos
imóveis. Como quando a escuridão vai progressivamente cobrindo a terra inteira
à medida que as luzes se vão apagando uma a uma, assim, à medida que as caras
conhecidas vão desaparecendo, vamos ganhando consciência que nos encaminhamos
para a mais completa solidão e para o nosso fim; que as testemunhas, quando as
houve, dos nossos grandes momentos se vão, levando também consigo bocados
dessas memórias que rasgam na nossa carne. As imagens do espelho, fiel e
áspero, são os únicos marcos que nos informam de quanto já andamos porque nós,
para nós, somos sempre iguais. Somos nós e a nossa memória. Somos agora e
ontem.
Também nascemos com o sol todos
os dias. E vivemos com desespero, na esperança de que o amor nos salve.
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