quinta-feira, 31 de maio de 2012


Não,
Não procures o espelho e o eco,
Do espelho a imagem nunca sairá.
E no eco ... o som
Só volta para trás
Quando bate
No muro.

É imóvel
Que entrarás na eternidade.

Cada dia é, ao mesmo tempo, o último.
Quebrar as asas às ilusões:
Ser significa estar
Totalmente
Aqui.

Há, todavia, momentos em que a forma de estar é ir...

a vida inesgotável II

Prepara-te para a viagem,
não esqueças a flor como bagagem
(não aceites mais lastros)
e de as asas nos pés,
não marques escalas

Quando o barco se começa a afastar do cais é que as amarras rangem,
mas quando o barco vai de partida recolhem como o caracol à sua casca.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A primeira regra: quebrar a regra!

no Bartleby Bar
Tenho o estranho pressentimento de que tudo apodreceu por dentro.
Que o comboio se pôs em movimento...
Que o tic-tac já ecoa nas entranhas da história,
que a areia já flui nas ampulhetas.
Já olhei muitas vezes o horizonte,
à espera de sinais, à espera do seu incêndio.
Tenho um estranho pressentimento,

A hora em que vi tudo de um ângulo novo, como se dissesse para mim próprio,
E me submetesse à violência da imagem:
Não foste tu que atirou a pedra, foi a pedra que te atirou a ti!

(É bem verdade, podes bem ser o agente de tudo o que te aconteceu)
Os incêndios e os clarões ficaram para trás:
Cheira a terra queimada...
As páginas viraram-se com fragor:
Os milagres nunca aconteceram...
O que podia ter sido nunca foi...
A terra ensopa a chuva,
manso bálsamo quando tamborila,
feroz ameaça quando o céu desaba
A água escorre pela cara e
outros líquidos povoam a memória:
sangue adocicado, salgados suor ou lágrimas...
A mochila está pronta para a partida
batamos os pés, sacudamos o pó
secos e enxutos, faça-mo-nos à estrada

o segredo e o desabafo

a flauta de cana, ou o canavial onde o vento soprava: « o príncipe tem orelhas de burro, o príncipe tem...» ou o

O caderno, diário, é assim como o tal buraco, cova no chão, onde despejo e me despojo, ampliando e dilatando-me...
Frases brilhantes,contidas e acutilantes; são as que expressam e contêm um pensamento.
Pois é, mas se o que parece ter mais valor é registar as conclusões de um raciocínio, mais do que fixar as deambulações até ao seu termo, o que não há dúvida é que explanar dá gozo e nos conduz ao exterior do que estamos a pensar
..Ó coração, porque estás tão longe da boca? Assim torna-se tão difícil dizer o que se pensa... não por se sentir menos, mas, se calhar, pelo contrário, por se pensar mais o que sente... A cabeça separa aquilo que o coração une... e com o esvair do tempo, esvaí-se e transforma-se também o que se sente...
pois o problema é não se dizer imediatamente o que se sente ou comentar na hora o que nos atinge...

ANTE A LEI

Antes da lei há um guarda. Um camponês apresenta-se perante esse guarda e solicita que lhe permita entrar na lei. Mas o guarda responde que por ora não pode deixá-lo entrar. O homem reflecte e pergunta se mais tarde o deixarão entrar.
--É possível --diz o porteiro--, mas não agora.
A porta que leva à lei está aberta, como de costume; quando o guarda se coloca a um dos lados, o homem inclina-se para espreitar. O guarda vê-o, risse e diz-lhe:
--Se tanto o queres, experimenta entrar apesar da minha proibição. Mas lembra-te que sou poderoso. E sou apenas o último guarda. De sala em sala também há guardas, cada um mais poderoso do que o outro. E já o terceiro guarda é tão terrível que não consigo suportar o seu aspecto.
O camponês não tinha previsto estas dificuldades; a lei devia ser sempre acessível para todos, pensa ele; mas ao fixar o guarda, com a sua capa de pele, nariz grande e adunco, barba comprida de tártaro, rala e negra, decide que lhe convém mais esperar. O guarda dá-lhe um banquinho e permite-lhe sentar-se debaixo da ombreira da porta. Ali espera dias e anos. Tenta infinitas vezes entrar e cansa o guarda com as suas súplicas. Frequentemente, o guarda mantém com ele breves conversas, faz-lhe perguntas sobre o seu país e sobre muitas outras coisas; mas são perguntas indiferentes, como as dos grandes senhores, e para terminar, sempre lhe repete que ainda não o não pode deixar entrar. O homem, que se muniu de muitas coisas para a viagem, sacrifica tudo, por mais valioso que seja, para subornar o guarda. Este aceita tudo, com efeito, mas diz-lhe:
--Aceito-o para que não penses que deixaste de fazer tudo o que podias.
Durante esses longos anos, o homem contempla quase continuamente o guarda: esquecesse dos demais e parece-lhe que este é o único obstáculo que o separa da lei. Mal diz a sua má sorte, durante os primeiros anos temerariamente e em voz alta; mais tarde, à medida que envelhece, apenas para si murmura. Retorna à infância, e como na sua longa contemplação do guarda chegou a conhecer até as pulgas da sua gola de pele, também suplica às pulgas que o ajudem e convençam o guarda. Por fim a sua vista debilita-se, e já não sabe se há menos luz ou se apenas o enganam os seus olhos. Mas no meio da obscuridade distingue um esplendor, que surge inextinguívelmente da porta da lei. Já lhe resta pouco tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências de esses longos anos se confundem na sua mente numa única pergunta, que até agora nunca formulou. Acena ao guarda para que se aproxime, já que o rigor da morte lhe endurece o corpo. O guarda vê-se obrigado a dobrar-se muito para falar com ele, porque a disparidade de estatura entre ambos aumentou bastante com o tempo, em prejuízo do camponês.
--Que queres saber agora? --pergunta o guarda-- és insaciável.
--Todos se esforçam para chegar à lei --diz o homem--; como é então possível que durante tantos anos ninguém além de mim tenha pretendido entrar?
O guarda compreende que o homem está a morrer e, para que os seus sentidos esmorecidos percebam as suas palavras, diz-lhe ao ouvido com voz tonitruante:
--Ninguém o podia pretender, porque esta entrada era só para ti. Agora vou fechá-la.
Kafka
A liberdade é o meu oxigénio.
E ao som desta música!?
Ah... maravilha!!

segunda-feira, 28 de maio de 2012






Soneto XVII
Pablo Neruda

Amo-te sem saber como, quando ou donde te conheço.
Amo-te sem falsos rodeios, sem falsos orgulhos;
Amo-te porque não conheço outra forma de estarmos tão apertados,
que a tua mão no meu peito seja a minha,
nem outra forma de estarmos tão perto, 
que os teus olhos se cerram, quando eu adormeço.

(traduzi, liberrimamente. do inglês)

domingo, 27 de maio de 2012


Caxias, 26 de Maio de 2012

Minha querida,
respondo ao teu incompreensível desafio de te demostrar que sou o teu melhor par, que é como se chama o parceiro na dança, que poderias imaginar.
Sim, imaginar, porque é disso que se trata quando se trata de dançar. Pois… dançar! Percorrer, com a música a correr nas veias, horas e horas de prazer com a suprema volúpia de sentir o coração a bater, que só nós sentimos, e sempre a par, sempre a par, dialogando e saltando…
Poderás encontrar outro caminho, mas será este que perderás... não se pode ter um pé num e outro noutro quando eles se bifurcam...
Para dançar assim é para uma viagem que te convido… eu, tu e a música, o resto risca-se….
Que mais te posso eu dizer? Que a tua incompreensível dúvida, repito, apaga as luzes todas à nossa volta, cessa todos os rumores e acordes, cria o deserto, o silêncio, desce a noite escura que lá fora nos rodeia?
Vem, está na tua mão reabrir as portas do salão, sermos os reis da festa, tocar à reunião, inundar-nos de luz, de som, de multidão…
Há muito que me preparo para o momento para o qual sei de antemão que nunca estarei suficientemente preparado porque faltas tu. (E, lembra-te, só existiremos nós!)…
Deita as dúvidas fora, entremos, que a dança é nossa! 
Espanta os espíritos, que é na perdição da dança que reside a salvação.

Teu, com a certeza da resposta,
R.

sexta-feira, 25 de maio de 2012



















(o gato de Schrödinger)

A incerteza é ler nos astros e ter certeza que é o caminho das pedras.
(Mas  por certas coisas vamos até ao fim do mundo...)

quinta-feira, 24 de maio de 2012




Um dia a rolling stone, sempre a rolling stone...

Paixão, verdade, solidão.
A paixão é um alçapão onde já caí muitas vezes. Mas também é verdade que é quase como uma virgindade; a primeira paixão tinha a inocência como ingrediente, foi explosiva… depois, a imaginação, insidiosa, dilatou-se e ocupou o espaço da inocência perdida (é sempre diferente, mais a paixão nunca mais largará quem um dia abocanhou). A inocência volatizou-se, mas a nostalgia desse primeiro milagre extinto incendiará sempre a imaginação sem a qual não há paixão…
A verdade é fugidia como uma andorinha que volta todos os anos com novas crias desde que saibamos abrigar o ninho que lhe serve de poiso…
A solidão é uma situação, permanente; estado, sentimento, são coisas que têm a ver com a consciência da solidão, não com ela mesmo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012





























Um ramo de papoilas para ti. Além do coração, só entre as páginas de um livro as suas pétalas podem ser guardadas.






terça-feira, 22 de maio de 2012

(Cenas de bairro)
Vejo tanta tristeza e desamparo à minha volta... medo, também.... e, como é óbvio, tantos caminhos que foram dar a becos sem saída... mas becos que são só desespero de morrer de sede de amor.
Há um grande abismo entre o cais e a água que o lambe...
E ver aquele que refugiado no seu pedestal não desejaria, se o ousasse, senão outra coisa que lançar-se nos braços incertos de quem cá em baixo já não tem muito curso para sonhos... para a indiferença de quem já perdeu qualquer referência que lhe seja exterior.
O amor é uma bóia que chega a poucos náufragos...
Mas também há quem ande num mar de terra firme.

segunda-feira, 21 de maio de 2012


Ah! Poder dedicar-me exclusivamente à arte!
Só um louco se apaixona por um fantasma.
Aos outros vê-mo-los, e ver é imaginar.
A nós pensamo-nos.

domingo, 20 de maio de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A eternidade existe em certos momentos e só neles.

domingo, 13 de maio de 2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012


A maior descoberta do homem é o pensamento. A partir daí toma consciência de si mesmo e torna-se no que é.
O pensamento, matéria e instrumento.
Abarca para lá do raciocínio, engloba, para além da razão, a emoção.
A coincidência, quando é uma regra, é já o primeiro passo para uma lei.
O divino é a união da força e da graça.

quinta-feira, 3 de maio de 2012


É a concentração no caminho que explica a indiferença pelas margens.
O caminho é o sentido.
A indiferença não nega nem combate, limita-se a não perder tempo e energia com o que lhe não diz respeito.