quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

IN MMEMÓRIA


As tardes que eu aqui passei! Com esta música de fundo e a sala deserta… Na rua, próxima, o som da passagem de algum automóvel como o espraiar do ruído da onda ao longo da praia…

Para acentuar como tudo é cíclico e se repete, a intrusão do que quer que seja entre mim e o tema quando, após me decidir a fazê-la, me apresto a tirar a fotografia.

Ah… a sabedoria das horas mortas, do sossego e da solidão entre mim e o caderno: é esta a lição!: quando não se fala, escreve-se.

Serei recompensado mais tarde, quando ao ler estas palavras voltar a esta tarde.


20 Dez, qua

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

As moscas adivinham a morte
colam-se ao rosto dos vivos

não querem morrer mas
sabem que ninguém se salva
que o inverno virá 
e com as suas chuvas
lavará as mágoas, o tempo pegajoso
e a sua própria vida.

* * *

Entrei naquele café 
onde certas horas e tu própria
ficaram para sempre.

Trágico e perturbador
é não haver testemunhas
ficarmos condenados
à solidão e ao silêncio.

Quando desaparecermos
desaparecerão também 
as recordações
que nos apertam o estômago
que nos enchem os olhos de lágrimas.

Minto.         Exagero.
É o silêncio
a apertar o coração.
Voltaste ao local do crime
mas as cinzas estavam ja frias
e o vazio estava cheio de fantasmas.
A luz que ilumina
em excesso cega.

Passei por aquela esquina
ergui os olhos para aquela janela
revi outra vez aquele quarto
onde o pavimento rangia a cada passo
e onde -- naquela tarde -- a minha vida
poderia ter mudado para sempre.

Já no regresso a casa 
-- onde ninguém me esperava --
cruzei-me com a alegria de um cão
à chegada da dona.

O tempo, esse grande martírio!
Que sendo infinito se esconde
em coisas tão pequenas!
 
O tempo e a água escapam
entre os dedos que os querem agarrar 

O inverno parece pouco a pouco construir a teia que nos envolve. Mesmo sendo esta feita de tantas coisas do passado tem sempre um carácter único que nos transporta ao dia em que o vivemos. Nem sequer está frio hoje, mas estas notas nostálgicas que ouço enquanto escrevo poderiam ser de outro momento?

(Sex,17Dez21)

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Mongólia. Fui ver a Mongólia através dos olhos de Ulrike Ottinger. A planície verde. Os majestosos cabeços redondos. Os garranos convivendo com os camelos. As cores!!!

O outro mundo.

(sex, 22 Out 21)

Estou mesmo na terra de ninguém; as velhas sedentas de amor, já em pânico pela vertigem do fim e que sabem que tudo está destinado à derrocada: depois da devastação do tempo são mais objecto da fraternidade do que do desejo. As jovens, atraentes e desejáveis, mas carregadas de ilusões e entraves, sequiosas de bem-estar, segurança e... futuro. No presente, que é o que interessa, não há ninguém.
Para ter uma vida que mereça ser vivida é preciso ter coragem.
Escrevo para falar com alguém.

(Qui, 21 Out 21)

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

O que lembro das mulheres, são pormenores.

Pequemos factos, grandes lições: como empilhar pratos no lava-louças, ter junto ao espelho da casa de banho sempre um pano para o limpar, como estender uma peça de roupa na corda ou como dobrar uma camisa...

Fora o sexo, a isto se resumiu a educação sentimental...