quarta-feira, 31 de outubro de 2012



Por mais imaginação que tenhas, nunca poderás avaliar as dores dos outros enquanto as não sofreres.




Olho para as coisas pela primeira e última vez. Como quem as fotografa.
Vejo as imagens, sem som.


terça-feira, 30 de outubro de 2012



"(...) o Amor!... quando começamos a levá-lo a sério, alguém aparece para o transformar numa farsa...", uma frase de uma peça de teatro, ouvida ao acaso na rádio, à mesa do pequeno-almoço, no começo do dia. A voz dos deuses sopra constantemente e, às vezes, é inteligível.



domingo, 28 de outubro de 2012



A vida tem sempre razão.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012


Auto-retrato 1954
Jean Cocteau

quinta-feira, 18 de outubro de 2012



Federico García Lorca, El beso, tinta y lápices de colores sobre papel, 30.2x23.5 cm, 1925

domingo, 14 de outubro de 2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012


Há algum tempo que não assento a caneta no papel com o pensamento a deslizar na mente, sem o que o dia não fica completo. A minha alma precisa de um repouso tão grande como a sua inquietação. Até onde me pode levar um som ou um odor, o calor ou o frio, uma visão colorida pela imaginação ou pela memória? As horas caem gota a gota como a água na clepsidra: os olhos voam até aonde não consigo ir. Fico em suspenso. Quem quer ser entendido não fala: ainda que o mundo seja feito de palavras, o seu sentido voa com elas.
O Jorge, P.M., estacou há vinte e tal anos. Passamos tantas noites, tantas horas a desenhar o futuro! Antes de partir, como quem pousa as malas na soleira da porta e nos faz um sinal, deixou-me três obras: “Cibernética e Sociedade”, que os meus magros recursos de francês, física e matemática me deixaram apenas digerir na diagonal, os cálidos “Tristes trópicos” que a minha intensa viagem confirmou e cujos ecos não deixaram de ressoar, e “O homem faz-se a si próprio” que, tenho a certeza, o fez decidir-se pela arqueologia como forma de ver o mundo…
Não os li exaustivamente: o primeiro pelas as dificuldades que referi, dos “Trópicos” li a maravilhosa descrição da viagem e saltei o tratado de etnologia da segunda parte e, do livro de Gordon Childe, que abri ao acaso, li alguns capítulos… mas guardo-os religiosamente.
Lamento não poder dizer-lhe que tinha razão: o mundo é sempre aquele que estávamos à espera, mas de uma forma diferente do que esperávamos… menos delirante nas grandes coisas e mais inesperado nas pequenas: sempre igual e sempre diferente, como nós próprios.
Ah… quanto tempo não passaríamos a comentar, nós que nos atirávamos a qualquer assunto que discutíamos como cães a um osso, as diferenças e nuances entre as nossas profecias e a realidade… Hoje, acode-me isto ao espírito, num momento em que parece que as coisas se agudizam e toda a gente espera uma convulsão no modo de vida… Naquela altura, não queríamos outra coisa!… Gostava de asseverar-lhe que no meio da escuridão continuam as luzes acesas que iluminam o horizonte, mas que o que muda é a luz que banha tudo. Que o futuro esteve sempre presente. E, claro, que os mortos estão vivos enquanto viverem connosco.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"A infância dura a vida inteira"
Ana Maria Matute

(Jeanloup Sieff)
Viver à espera é abrir a porta à morte.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A utopia é necessária, mas como motor da realidade.
Tentar travar a vida é arriscar-mo-nos a que ela nos passe por cima.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

[...por falar de delicadeza]



algures aonde eu nunca viajei, alegremente além de
qualquer experiência, os teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frouxo há coisas que me prendem,
ou que não posso tocar de tão próximas que estão

o teu mínimo olhar há-de facilmente desprender-me
embora eu me tenha cerrado como dedos,
tu sempre me abres pétala a pétala como abre a Primavera
(tocando hábil, misteriosamente) a primeira rosa

mas se teu desejo for encerrar-me, eu e
minha vida fecharemos em beleza, de repente,
como quando o coração desta flor imagina
a neve em tudo cuidadosa descendo;

nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade: cuja textura
me submete com a cor dos seus domínios,
representando a morte e para sempre em cada alento

(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre; apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão finas mãos

e.e. cummings
xix poemas