Por mais imaginação que tenhas,
nunca poderás avaliar as dores dos outros enquanto as não sofreres.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Há algum tempo que não assento a
caneta no papel com o pensamento a deslizar na mente, sem o que o dia não
fica completo. A minha alma precisa de um repouso tão grande como a sua
inquietação. Até onde me pode levar um som ou um odor, o calor ou o frio, uma
visão colorida pela imaginação ou pela memória? As horas caem gota a gota como
a água na clepsidra: os olhos voam até aonde não consigo ir. Fico em suspenso. Quem
quer ser entendido não fala: ainda que o mundo seja feito de palavras, o seu sentido
voa com elas.
O Jorge, P.M., estacou há vinte e
tal anos. Passamos tantas noites, tantas horas a desenhar o futuro! Antes de
partir, como quem pousa as malas na soleira da porta e nos faz um sinal, deixou-me
três obras: “Cibernética e Sociedade”, que os meus magros recursos de francês,
física e matemática me deixaram apenas digerir na diagonal, os cálidos “Tristes
trópicos” que a minha intensa viagem confirmou e cujos ecos não deixaram de
ressoar, e “O homem faz-se a si próprio” que, tenho a certeza, o fez decidir-se
pela arqueologia como forma de ver o mundo…
Não os li exaustivamente: o
primeiro pelas as dificuldades que referi, dos “Trópicos” li a maravilhosa
descrição da viagem e saltei o tratado de etnologia da segunda parte e, do
livro de Gordon Childe, que abri ao acaso, li alguns capítulos… mas guardo-os
religiosamente.
Lamento não poder dizer-lhe que
tinha razão: o mundo é sempre aquele que estávamos à espera, mas de uma forma
diferente do que esperávamos… menos delirante nas grandes coisas e mais inesperado
nas pequenas: sempre igual e sempre diferente, como nós próprios.
Ah… quanto tempo não passaríamos
a comentar, nós que nos atirávamos a qualquer assunto que discutíamos como cães a um osso, as diferenças e nuances entre as nossas profecias e a realidade… Hoje,
acode-me isto ao espírito, num momento em que parece que as coisas se agudizam
e toda a gente espera uma convulsão no modo de vida… Naquela altura, não
queríamos outra coisa!… Gostava de asseverar-lhe que no meio da escuridão continuam as luzes acesas que iluminam o horizonte, mas que o que muda é a luz que banha tudo.
Que o futuro esteve sempre presente. E, claro, que os mortos estão vivos
enquanto viverem connosco.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
[...por falar de delicadeza]
algures aonde eu nunca viajei, alegremente além de
qualquer experiência, os teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frouxo há coisas que me prendem,
ou que não posso tocar de tão próximas que estão
qualquer experiência, os teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frouxo há coisas que me prendem,
ou que não posso tocar de tão próximas que estão
o teu mínimo olhar há-de facilmente desprender-me
embora eu me tenha cerrado como dedos,
tu sempre me abres pétala a pétala como abre a Primavera
(tocando hábil, misteriosamente) a primeira rosa
mas se teu desejo for encerrar-me, eu e
minha vida fecharemos em beleza, de repente,
como quando o coração desta flor imagina
a neve em tudo cuidadosa descendo;
nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade: cuja textura
me submete com a cor dos seus domínios,
representando a morte e para sempre em cada alento
(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre; apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão finas mãos
e.e. cummings
xix poemas
embora eu me tenha cerrado como dedos,
tu sempre me abres pétala a pétala como abre a Primavera
(tocando hábil, misteriosamente) a primeira rosa
mas se teu desejo for encerrar-me, eu e
minha vida fecharemos em beleza, de repente,
como quando o coração desta flor imagina
a neve em tudo cuidadosa descendo;
nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade: cuja textura
me submete com a cor dos seus domínios,
representando a morte e para sempre em cada alento
(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre; apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão finas mãos
e.e. cummings
xix poemas
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