No Jardim da Estrela, onde não consigo passar sem pensar em certas horas da minha infância nos alvores da adolescência. (Um ano praticamente sem almoçar, após partir o termo que manteria o almoço morno, deitando fora consecutivamente a comida fria que trazia de casa). As verdadeiras batalhas, na sequências de grandes desafios de futebol no intervalo da hora do almoço em que éramos fechados e abandonados no recinto da escola, com pedras da calçada voando como setas que era preciso evitar mas que podiam atingir, e atingiam, um companheiro ao lado. A formação em coluna dois a dois que atravessava o jardim para ir para as actividades de milícia fascista no edifício sede: fui a primeira vez, serviu-me de reconhecimento. À segunda, numa das curvas do serpeante percurso deixei seguir a coluna e tergiversei para o lado oposto: esqueceram-se de mim, deixei de existir, deixei de pertencer ao número dos arregimentados. E a pena era de chumbar o ano se fosse descoberto!
Também desse ano faz parte a minha estreia a voar na esteia de um carro eléctrico evitando o cobrador e poupando uns cobres para a compra de uma bola de plástico na fábrica que as produzia e que só aguentava um único dia.
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