Portugal é um sítio que apodrece e onde se apodrece.

Estou velho e acabado!...

Sessenta e quatro anos?! Digo de mim,

para mim. E olho para o outro lado

da rua. Já nem distingo as estátuas

das figurantes, à porta da cabeleireira.

Cruzo-me com um casal idoso e ouço-a:

Mas se não és um idoso… o que és?

Sentado na esplanada vejo que passam,

seguidos por outra jovem,

um jovem casal, e ele, o executivo que

deseja impressionar a acompanhante,

 que  por sua vez também o deseja

(mas tudo isto sem que sejam capazes de o assumir),

diz : as pessoas vão ter que encontrar formas

alternativas para ultrapassar a situação.

Eis o que passa (e tudo mais

são risos e cinzas…)

É tão bom tudo poder e nada temer.

Basta fechar os olhos e ver.

Sabemos tudo,

mas não nos atrevemos a acreditar nisso.

Por uma simples razão,

tememos a consequência:

ser deus ou

estar louco.

Ontem, como se o ouvisse por acaso, ouvi dizer: amo-te muito e - sem razão nenhuma para isso, excepto a minha fome de amor - pensei que me fossem dirigidas essas palavras!

Rossio

esta manhã...

Primeiro
Foi a longa luta perdida
De recusar as horas

Depois, e ainda agora
A agonia ou a graça
De esquece-las

Primeiro,
Foi a Graça
Depois, a tragédia de a perder

E agora
Sabemos o que custa
Enterrar os vivos
E ainda mais,
Ressuscitá-los

(no dia 26 de Maio de 2013)

[...]
Raios te partam, ó crueldade! Para e porquê existes?
Para me dizeres que isto ainda é habitável?
Oh! Embora a escuridão seja tão cerrada
existirás tu, porventura,
para me dizer que algures ainda há um raio de luz?

Happy Together (Wong Kar-wai, 1997)

sem palavras

museu geológico

O que fez daqueles dias um oásis? O que fez daqueles dias uma estadia no paraíso?

Uma dose certa de venenos, pequenos vícios e rituais, uma pausa para café, um cigarro pensativo. Um oásis é uma pausa no deserto. Um intervalo na distracção do mundo. O tempo em suspenso . Um mergulho em nós mesmos.

Hoje, é como uma ferida na memória. Como na ausência recordar a presença. No inferno da neblina e do nevoeiro sonho com o calor do deserto, com oásis e com miragens.

O desespero de ver a vida a escoar-se, a esvair-se, pode confundir-se com o desespero de estar vivo.     É atroz saber-se provisoriamente vivo.